Assembleia de Comarca: outubro 2009 Assembleia de Comarca

quarta-feira, outubro 07, 2009

Morrer por Amor




MORRER POR AMOR

É comum ouvir dizer que já não se morre de amor. Eu penso mesmo que nunca ninguém morreu de amor. Morre-se por amor, isto é, em resultado de atitudes que se tomam por amor. Normalmente, por amor contrariado ou não correspondido.
Os cães sim. Morrem por amor, por saudade insuperável dos seus donos desaparecidos, ou pelo menos assim parece.
As pessoas podem morrer em resultado de atitudes motivadas por impulsos de amor e generosidade, que depois correm mal. Fazem isso por outras pessoas, e também por animais que lhes são queridos.
Aconteceu em Vila Franca de Xira, na rampa do cais da areia, no dia 6 de Agosto de 2009. Um homem ainda jovem (41 anos) pensando que a sua cadela se afogava, lançou-se à água para salvá-la. Alguma coisa correu mal e a tragédia aconteceu. A cadelinha salvou-se, mas o dono foi levado pelo rio.
O mais triste é que o trágico desfecho foi um desperdício, porque os cães não se afogam. Mas quando agimos por impulsos de afecto, generosidade ou amor, não fazemos contas dessas…
Há entre os homens e os cães uma ligação afectiva muito grande, que Konrad Lorenz tratou muito bem no seu magnífico livro “E O HOMEM ENCONTROU O CÃO”.
Guilherme D’ Orange, um dos grandes fundadores da nação Holandesa, foi assassinado a tiro, à queima-roupa, por um assassino a soldo de Filipe II de Espanha. Tinha um cão que, segundo dizem os Holandeses, assistiu à morte do dono e nunca mais comeu nem bebeu, acabando por morrer alguns dias depois. Por isso, lá está a sua estátua jazente junto aos pés da estátua jazente do dono, esculpida no mesmo esplendoroso mármore pérola no lugar cimeiro da nave central da Neeuwe Kerk (Igreja Nova), que é o mausoléu da família real Holandesa, na cidade de Delft, Cidade dos Príncipes.
Num porto marítimo na Dinamarca, há uma estátua de um cão esculpida em bronze. Foi mandada erigir pelo seu dono quando regressou de África anos depois de ter embarcado ali naquele porto, ao saber que o seu cão tinha vivido o resto da sua vida vagueando pelo porto e sempre acabava e começava os dias com os olhos postos no Mar.
Também em Vila Franca, ali para a parte Sul da Rua que hoje se chama Luís de Camões, viveu há cerca de 40 anos uma cadelinha de caça, chamada Frecha. Também ela deixou de comer e morreu poucos dias depois do dono. Assim me contaram.
E quem já se esqueceu da magnífica fotografia publicada pela Vida Ribatejana, do lindo cão do Cidadão de Vila Franca, Álvaro Guerra, deitado por debaixo do seu corpo em câmara ardente, na Patriarcal?
Agora, em Vila Franca, um homem morreu por amor ao seu cão.
Depois dele, já morreram meia dúzia de pessoas em resultado de zaragatas, de ultrapassagens mal pensadas e de condução rodoviária sob efeito de álcool, essas sim, mortes estúpidas.
A morte deste homem, não foi uma dessas: foi uma morte por amor e generosidade.
Há cães, que fariam o mesmo por ele. Por amor ao seu dono.
Ele morreu por amor à sua cadela.
É assim que vou recordá-lo. Com imenso respeito e admiração.
Domingos Figueiredo.
Alverca do Ribatejo

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